1. A vida contemplativa não foi instituída por
causa da ativa, mas a vida ativa por causa da contemplativa.
2. A fé se compara ao peixe. Assim como o peixe
é batido pelas freqüentes ondas do mar, sem que morra com isso, também a fé não
se quebra com as adversidades.
3. Quem está cheio das glórias do mundo se
assemelha à bexiga que, cheia de vento, parece maior do que é; basta uma
picadinha da agulha da morte e se verá o pouco que é.
4. Não é o temor que faz o servo nem é o amor
que faz o livre; mas antes o temor é que faz o livre, o amor que faz o servo.
5. Em todo o corpo do homem o diabo não encontra nenhum membro tão conveniente para ser caçado,para espiar, para enganar, como o coração, porque dele procede a vida.
6. A paciência é melhor maneira de vencer.
7. Quanto mais profundamente lançares o
alicerce da humildade, tanto mais alto poderás construir o edifício.
8. Jerusalém tinha uma porta chamada
"Buraco da Agulha", pela qual não podia entrar um camelo, porque era
baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o
corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar.
9. Maria não afugenta nenhum pecador, antes,
recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de
Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os
desesperados.
10. O coração profundo é o coração do que ama, do que deseja, do contemplativo, do desprezador das coisas inferiores. Quando te aproximas de tal coração com passos devotos. Deus é exaltado, não em si, mas em
ti; a sua exaltação é a intensidade do teu amor, é a elevação do teu espírito.
11. Feliz aquele que arranca de si o coração de
pedra e toma um coração de carne, capaz de se doer compungido das misérias dos
pobres, de modo que a sua compaixão lhe sirva de consolo e este consolo lhe
dissipe a avareza.
12. Oscula com a boca a própria mão quem louva o
que faz.
13. Acredita o estulto no conselho da raposa,
fiado em que o bem transitório e mutável seja verdadeiro e duradouro.
14. Não poderás levar os fardos de outrem, se
não depuseres primeiro os teus. Alivia-te primeiro dos teus, e poderás levar os
fardos de outrem.
15. O que o Senhor faz em nós com a nossa
cooperação é maior do que tudo o que faz sem nós.
16. Assim como o vento que entra pela boca
aberta não mata a sede, mas aumenta-a mais, o mesmo sucede com a vaidade da
dignidade.
17. Assim como a flor, quando espalha o odor,
não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado
pelo perfume da sua vida de bondade.
18. A mentira reside na língua, o roubo na mão,
as extorsões no coração.
19. Aquele que segue a outro no caminho, não
olha para si, mas para aquele a quem constituiu guia da sua vida.
20. Antes de entrar um raio de sol em casa, não
aparece dentro, no ar, o pó; se, porém, entrar um raio de sol, parece cheia de
pó.
21. Todo enfermo diz: Amarga é a poção para os
que a bebem, mas quando se afastar a enfermidade, então se gloriará.
22. O insensato, como um asno, ouve somente o som
da palavra divina, mas o sábio percebe-lhe a força e leva-a ao coração.
23. Dizem que o filho da cegonha ama tanto o pai
que, ao vê-lo envelhecer, sustenta-o e alimenta-o. Isso faz por instinto.
Também nós devemos sutentar o nosso Pai nos seus membros débeis e doentes e
alimenta-los nos pobres e necessitados.
24. A soberba, para não ser desprezada, procura
encobrir-se na preciosa humildade.
25. Usa mais vezes os ouvidos do que a língua.
26. O hipócrita se assemelha ao pavão: ao ser
provocado pelas crianças, mostra o esplendor das suas penas e, quando faz rodar
a cauda, descobre torpemente o traseiro.
Pensamentos extraídos do livro "Ensinamentos e Admoestações", da Editora Vozes; e "Obras Completas de Santo António de Lisboa", Editorial Restauração, Lisboa.