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sábado, 14 de janeiro de 2012

Primazia do dom da Profecia sobre o dom de línguas.

Comentário de Santo Tomás de Aquino à Primeira Carta aos Coríntios


Texto sobre o dom de línguas.
Lição 1: 1Co 14,1-4


Primazia do dom da Profecia sobre o dom de línguas.

1. Buscai a caridade; mas também desejai com emulação os dons espirituais, especialmente a profecia.

2. Pois o que fala em línguas não fala aos homens senão à Deus. Em efeito, nada ele entende: diz verbalmente coisas misteriosas.

3. Pelo contrário, o que profetiza fala aos homens para sua edificação, exortação e consolação.

4. O que fala em línguas, edifica-se a si mesmo; o que profetiza, edifica toda a assembléia.

Uma vez afirmada a excelência da caridade à respeito dos demais dons, logicamente compara agora o Apóstolo os demais dons entre si, e mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas. E para isto faz duas coisas. Primeiro mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas, e logo como se deve usar tanto do dom das línguas como o da profecia.


Primeiramente, faz duas coisas. Faz ver que o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas, em primeiro lugar por razões relativas aos infiéis, e em segundo por razões da parte dos fiéis.

A primeira parte se divide por sua vez em duas. Primeiro mostra como o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas pelo uso daquele nas exortações ou ensinamentos; em segundo termo, pelo que vê do uso das línguas, que é para orar. Com efeito, para estas duas coisas é o uso das línguas: Por isso aquele que fala em línguas peça para poder interpretar (14,13). Enquanto ao primeiro, ainda duas coisas. Desde logo antepõe uma, pela qual se assegura o que segue; e ela é isto: Dito está que a caridade excede a todos os dons. Logo se isto é assim, buscai, isto é, esforçadamente, a caridade, que é o doce e proveitoso vínculo dos espiritos. Ante todas as coisas a caridade, etc. (1P 4,7). Sobre todas as coisas tenham caridade (Cl. 3,14).

Em segundo lugar adiciona o que liga com o que segue. E isto é aquilo de: desejai com emulação, etc. Como se dissera: Embora a caridade seja o maior de todos os dons, contudo os demais não são desdenháveis, senão que desejáveis, desejai com emulação, isto é, ardentemente amando os dons espirituais do Espírito Santo. E quem os fará mal se vos esforçais pelo bem? (1P 3,13). Pois embora a emulação às vezes se toma por fervoroso amor, as vezes por inveja, contudo não tem equivoco: mas bem um procede do outro, porque, com efeito, zelar e desejar com emulação designam um fervoroso amor a determinada coisa.

Mas ocorre que a coisa amada de maneira tão fervorosa é amada por alguém que não suporta coparticipação, senão que a quer somente para ela e exclusivamente. E isto é o zelo, que segundo alguns é um intenso amor que não suporta coparticipação na coisa amada. Mas nas coisas espirituais ocorre que muitos podem participar delas perfeitissimamente, em vez de um só nas que não podem participar muitos.

Assim é que na caridade não se dá esse zelo que não tolera coparticipação no que se ama e que só se encontra enquanto coisas corporais, no que sucede que se alguém tem aquilo que ele mesmo zela, sofre; do qual resulta um desejo com emulação que vem a ser inveja. De modo que se eu amo honra e riquezas, sofro se alguém as possui, e consequentemente o invejo. E assim é patente que do zelo surge à inveja.

Em consequência, quando se disse: Desejai com emulação os dons espirituais, não se trata da inveja, porque as coisas espirituais podem ser possuidas por muitos; e se disse que se desejam com emulação é só para induzir a um fervente amor de Deus.

Mas como nas coisas espirituais existem certos graus, porque a profecia excede o dom de línguas, se disse: especialmente a profecia, como se dissera: entre os dons espirituais desejai com maior emulação o dom da profecia. Não extingais o Espirito; não desprezeis a profecia (1Filem 5,19-20).

Mas para a explicação de todo o capítulo devem-se ter desde agora em conta três coisas, a saber: o que é profecia, de quantos modos se designa a profecia na Sagrada Escritura, e o que é falar em línguas.


Acerca do primeiro se deve saber que profeta é algo assim como o que vê ao longe, e em segundo lugar alguns o entendem como falar prognósticos, mas todavia melhor se toma por guia, faról, que é o mesmo que ver.

Pelo qual em 1 Reis 9,9 se disse que a quem agora se chama profeta em outro tempo se chamava vidente. Daqui que a visão daquelas coisas que estão distantes, ou que são futuros incertos, ou que estão por cima da nossa razão, se designa com o nome de profecia.

É, pois, a profecia a visão ou manifestação de futuros incertos ou do que excede a inteligência humana. Mas para tal visão se requerem quatro coisas.

Com efeito, como nosso conhecimento é mediante as coisas corporais e por espectros ou imagens tomadas das coisas sensíveis, primeiramente se necessita que na imaginação se formem semelhanças corporais das coisas que se mostram, como ensina Dionísio, pelo qual é impossível que nos ilumine a luz divina se não seja mediante a diversidade das coisas sagradas envoltas em véus.

O que em segundo lugar se necessita é uma luz intelectual que ilumine o entendimento sobre coisas que se devem conhecer acima de nossa natural cognição. Com efeito, como a luz intelectual não se dá senão sobre as semelhanças sensíveis formadas na imaginação para serem entendidas, aquele a quem tais semelhanças se mostram não pode ser chamado profeta, mas senão um sonhador, como o Faraó, que embora viu espigas e vacas, as quais indicavam certos fatos futuros, como não entendeu o que viu, não se chama profeta, senão que o é, aquele José, que fez a interpretação. E o mesmo há que dizer de Nabucodonosor, que viu a estátua, mas não entendeu. Pelo qual tampouco ele foi chamado profeta, senão a Daniel. Pelo qual se disse em Daniel 10,1: Lhe foi dada na visão sua inteligência.

O que em terceiro lugar se necessita é ousadia para anunciar o revelado. Pois para isto fez Deus suas revelações: para que sejam manifestadas aos demais. Eis, eu ponho minhas palavras na tua boca (Jr. 1.9).


O quarto são os milagres, que são para a certeza da profecia. Pois se não fizerem alguns, que excedam as forças naturais, não crerão naquilo que está por cima da cognição natural.


Pelo que aponta ao segundo, os modos da profecia, sabemos que existem diversos modos de ser profeta. Com efeito, às vezes se diz que alguém é profeta porque tem estas quatro coisas, a saber: que vê visões imaginárias, e têm a compreensão delas, e ousadamente as manifiesta aos demais e também faz milagres, e de um como está dito em Numeros 12,6: Se existe entre vós um profeta, etc.

Chama-se também às vezes profeta o que só tem as visões imaginárias, mas impropriamente e muito de longe.

Também se diz às vezes profeta ao que tem a luz intelectual para explicar também as visões imaginárias, ou feitas a ele mesmo, ou a outros; ou para expor os ditos dos profetas ou as Escrituras dos Apóstolos.

E assim diz-se profeta a todo o que discerne as escrituras dos doutores, porque se interpretam com o mesmo Espírito com que são declaradas. Pelo qual se podem chamar profetas a Salomão e a David, enquanto tiveram luz intelectual para uma clara e sutíl penetração; mas a visão de Davi foi tão só intelectual.

Se diz também que alguém é profeta pelo único fato de que declare ditos de profetas, ou os exponha, ou os cante na Igreja, e deste modo se diz que Saul se contava entre os profetas (I Rs 19,23-24), ou seja, entre aqueles que cantaram os ditos dos profetas.

Diz-se também que alguém é profeta se faz milagres, segundo aquilo de que o corpo morto de Eliseu profetizou (Sl 48,14), ou seja, que fez um milagre.

Mas o que aqui diz o Apóstolo em todo o capítulo sobre os profetas deve-se entender do segundo modo, isto é, do que se diz que profetiza aquele que explica em virtude da luz divina intelectual as visões recebidas por ele mesmo ou por outros. É claro que aqui se trata desta classe de profetas.

Quanto ao dom de línguas devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar pelo mundo a fé de Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos anunciassem a palavra de Deus, o Senhor deu-lhes o dom de línguas, para que a todos ensinassem, não de modo que falando uma só língua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem literalmente, de maneira que nas línguas dos diversos povos falassem as de todos. Pelo qual disse o Apóstolo: Dou graças a Deus porque falo as línguas de todos vós (1Cor 14,18). E em Atos 2,4, se disse: Falavam em várias línguas, etc. E na Igreja primitiva muitos alcançaram de Deus este dom.

Mas os corintios, que eram de indiscreta curiosidade, preferiam esse dom que o da profecia. E aqui por falar em língua, o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguem falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la, esse tal fala em língua. E também é falar em língua o falar de visões somente, sem explicá-las. De modo que toda locução não entendida, não explicada, qualquer que seja? Seja, propriamente falar em língua.

Visto estas coisas, dediquemo-nos à exposição da carta, que é clara. E para isto faz o Apóstolo duas coisas. Primeramente prova que o dom de profecia é mais excelente que o dom de línguas; e em segundo lugar rechaça qualquer objeção: Volo autem vos...: Desejo que faleis todos em línguas; prefiro, contudo, que profezeis (1Cor 14,5). Que o dom de profecia exceda o dom de línguas o prova com duas razões, das quais toma a primeira da comparação de Deus com a Igreja; e a segunda razão se toma da comparação dos homens com a Igreja.

A primeira razão é a seguinte: Aquilo pelo qual faz o homem as coisas que não são unicamente em honra de Deus, mas também para utilidade dos próximos é melhor que aquilo que se faz tão unicamente em honra de Deus. É assim que a profecia é não unicamente em honra de Deus, mas também para a utilidade do próximo, e pelo dom de línguas se faz unicamente o que é em honra de Deus. Logo etc.

E esta razão se desenvolve, primeiramente enquanto ao que o que é dito em língua, tão unicamente honra à Deus. O expressa com essas palavras: O que fala em língua, se entende que desconhecida, não lhes fala aos homens, se isto fosse, ao entendimento dos homens, mas senão a Deus, isto é, tão unicamente em honra de Deus (1Cor 14,2). Ou à Deus, porque o mesmo Deus entende: O ouvido de Deus zeloso escuta tudo, etc. (Sb 1,10). E o que não se disse ao homem, adiciona: Nada ele ouve, isto é, nada ele entende. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça (Mt 13,9). Mas o que só a Deus é falado, compreende-se que o próprio Deus fala. Pelo qual disse: Mas o Espírito de Deus fala mistérios, isto é, coisas ocultas (1Cor 14,2). Porque não sereis vós que farereis, senão o Espírito de vosso Pai é que falará em vós. (Mt 10,20).

Em segundo lugar prova que a profecia é em honra de Deus e para utilidade dos próximos. Pelo qual disse: Porque quem profetiza, etc. (1Co 14,3), isto é, o que explica visões ou escrituras, lhes fala aos homens, quer dizer, ao entendimiento dos homens, e isto para edificação dos principiantes, e para exortação dos adiantados (Animais os covardes,1Ts 5,14. Ensinai e exortai,Tt 2,15), e para consolo dos aflitos.

Mas a edificação corresponde a uma disposição espiritual. Em quem também vós estais sendo juntamente edificados (Ef. 2,22). E a exortação é para induzir a boas ações, porque se a disposição é boa, boa será tão a ação. Estas coisas ensinam e exortam (Tt. 2,1,4). A consolação induz a paciência ante os males. Tudo quanto foi escrito, para nos ensinar se escreveu (Rm 15,4).

Pois bem, a estas três coisas induzem os proclamadores da Divina Escritura.

A segunda razão é esta: o que é útil tão somente para quem o faz é menor que aquilo que também a outros aproveita. É assim que o falar em línguas é somente para a utilidade de quem as fala, é ao invés o profetizar aproveita a outros.

Averigua esta razão, e primeiramente enquanto a sua primeira parte, para o qual disse: O que fala em línguas edifica-se a si mesmo (1Cor 14,4). (Dentro de mim meu coração me ardia, Sl. 38,4). Em segundo lugar enquanto a sua segunda parte, para o qual disse: Mas o que profetiza edifica, instruindo, a Igreja, isto é, aos fiéis. Edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas (Ef. 2,20).

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Mentira

A seguir um texto de meu amigo e professor, Doctor em Teología Moral, Pe. Miguel Angel Fuentes,
durante muitos ano leciono no meu Seminario. Espero que os cristão tomem
Concernência da gravedade e valor morar de seu atos.

"Pergunta:
 Querido Padre, eu gostaria de me informar quais são os pecados que ofendem a verdade.
Resposta:
Na verdade, muitos pecados se opõem:

1. A MENTIRA .

a) A mentira em si . É dizer uma falsidade com intenção de enganar, ou seja, para enganar alguém que tem o direito de saber a verdade. A gravidade é medido pela natureza da verdade que ela deforma, das circunstâncias pelas intenções de quem, por danos sofridos por suas vítimas. Torna-se mortal quando gravemente ferido virtudes da justiça e da caridade.

Relações entre eles estão com os outros pecados que ferem a verdade, são as seguintes:

b) A falsificação de documentos e outros escritos . Mentira é um conseqüências qualificados e sérios. Muitas vezes acompanha o pecado de fraude , ou seja, quando a falsificação, assume o bem dos outros e simula a direita. Neste caso, a mentira é muitas vezes adicionado o abuso de uma posição ou uma relação contratual. O fraudador é necessária para reparar os danos causados ​​quando ele poderia e deveria ter previsto.

c) A simulação . É a mentira que é verificada pelos fatos. Por exemplo, um trabalhador que, aos olhos da cabeça, finge estar trabalhando. Simulação não é todo pecado é pecado simular uma má ação por mentiras e escândalo que isso daria aos outros, mas não quando ele está escondido com o que deveria permanecer oculto (como um segredo) ou um pecado já se comprometeu , a fim de evitar o escândalo dos outros [1] .

d) A hipocrisia . É uma simulação especial que consiste aparecem exteriormente o que não é verdade. Opõe-se à verdade, e pode ser mortal ou venial, de acordo com seu objeto, sua finalidade ou as circunstâncias que as acompanham.

e) A mentira jornalística . Ele tem um grave especialmente porque eles estão qualificados (ou seja, cujo trabalho é publicar a verdade) eo impacto público. Na verdade, pode ser responsável por falsas esperanças, temores falsos, pode empurrar alguém para tomar decisões baseadas em notícias negativas que tem ouvido ou lido. Quando tais mentiras é remover a calúnia fama, particularmente grave pela publicidade dada ao fato.O trabalho realizar tal é necessária para reparar público.

f) A restrição ilícita mental. Não é só permitido, mas obrigatória para esconder a verdade quando sua comunicação poderia causar danos aos ouvintes ou aos outros.Enquanto é preciso dizer a verdade, não é necessário, em algumas circunstâncias, para dizer toda a verdade.

Isso geralmente é feito através da restrição mental. No entanto, devemos distinguir vários fenômenos que têm alguma semelhança com o outro, mas não a moralidade mesma.

O "anfibologia" , ou seja, o uso de um termo ou frase significado, ambíguas dupla, cujo verdadeiro significado apenas aqueles que sabem dizer, mas o ouvinte irá quase certamente o contrário. Por exemplo, se alguém diz 'eu digo que eu não sei ", eu não quero dizer que ele não sabe nada, mas eu digo as seguintes palavras: eu não sei ". É ilegal e equivale a uma mentira.

A "reserva de estrita mental ' : uma espécie que consiste em transferir anfibologia à mente uma frase ou expressão um significado diferente do que é aparente a partir do significado óbvio das palavras, mas em que não há qualquer vestígio ou indicação de onde você pode descobrir a verdade . Por exemplo, se alguém diz 'Eu não fiz um fracasso', adicionando dentro ", quando ele tinha cinco anos," ou "vi Roma", acrescentando em sua mente "em imagens". Neste caso, nunca é legal.

O "restrições mentais remotamente ou pode" , é como acima, mas é uma fenda através da qual a verdade pode ser vislumbrada . Devo dizer que é ilegal sem justa causa, mas pode ser legal para uma causa justa e, desde que:

-Ilegal sem justa causa, porque, enquanto outros poderão descobrir a verdade se você prestar atenção ao verdadeiro significado, no entanto, geralmente não paga e sofre uma decepção real.

-Legal e desde justa causa: no presente caso, é uma aplicação de duplo efeito voluntária .Neste caso, o efeito é bom e queria manter um segredo (profissional, natural, sacramental) ou evitar danos maiores, etc., O efeito ruim permitiu o engano de outra pessoa. Quando há justa causa e desde? Em geral, sempre que necessário para esconder a verdade ou de forma imprudente faz uma pergunta vizinho que não tem o direito [2] .

Em geral, é necessário para desencorajar o uso da restrição mental, como é fácil enganado sobre a existência dos fatos apresentados e incorrer em mentiras reais.

2. Eles também se opõem à verdade pecados que prejudicam a reputação de outros

Estes são:

a) Julgamento imprudente. consiste em admitir, mesmo tacitamente, como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral nos outros.

b) Falar mal dos outros. consiste em expressar os defeitos e falhas de outras pessoas que ignoram, sem razão válida objetivamente.

c) Calúnia. consiste em danificar a reputação de outros dizendo coisas falsas ou dar ocasião a falsos juízos a respeito do mesmo, por observações contrárias à verdade.

d) O testemunho falso . É constituída por uma afirmação contrária à verdade sobre os outros (calúnia), realizada tribunal. Se, além disso, está sob juramento é chamado defalso testemunho . Você pode ter tido a intenção de condenar um inocente ou exoneração do culpado ou aumentar a pena aplicada pelo réu.

Você pode ver a explicação de alguns desses pecados no Catecismo. nn. 2475-2487.


[1] Cf. S.Th. , II-II, 111, 1 ad 3 e 4.

[2] Cf. Royo Marin, Teologia Moral para os leigos, I, n º 794.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição.

A Igreja sempre considerou as Sagradas Escrituras, e continua a considerar, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé[1].
Uma só fonte da Revelação
Há uma íntima conexão entre a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição da Igreja, já que ambas brotam do único manancial divino, têm idêntico objetivo e tendem ao mesmo fim[2].
Dentro de uma correta interpretação, podemos dizer, sem receio de errar, que a Sagrada Escritura contém toda verdade revelada por Deus e que a Sagrada Tradição, sozinha, é via pela qual é possível conhecer certas verdades reveladas. Porém, essas concepções podem gerar a ideia de que existem duas fontes separadas da Revelação, o que não é certo.
Para melhor enxergar o valor individual de cada uma e assim dar-lhes o mesmo afeto e veneração, torna-se conveniente dizer que existe uma relação orgânica entre elas, uma unidade intrínseca. Ambas têm a mesma origem e inspiração divina. O que as distingue é somente o modo como comunicam as verdades.
De fato, para a vida da Igreja a Sagrada Escritura é mais acessível e prática, já que nela todos os fiéis podem encontrar num só livro – a Bíblia -, as verdades de fé e costumes que Deus quis revelar ao seu povo, a fim de transmiti-las a todos os povos. Enquanto que a Sagrada Tradição está disseminada em muitíssimas e variadas obras. Mas, sem perderem as suas diferenças e propriedades particulares, Escritura e Sagrada Tradição se unem e se fundem para construir um único depósito da Palavra de Deus[3]. Por isso, quem quiser compreender com precisão todas as questões relacionadas com a fé e os costumes, deve aferi-las com uma e com outra. Não podemos contar só com a Escritura e nem só com a Sagrada Tradição, porque não há dois rios – um escrito por inspiração divina e outro oralmente transmitido pela assistência de Deus – onde podemos beber a água viva das verdades reveladas, mas há uma só torrente, formada por essas duas correntes que se juntam e se integram.
A fonte única do sistema é Cristo, o Verbo Encarnado, verdadeira Palavra de Deus enviada aos homens, plenitude da Revelação. Dessa fonte emanam, para formar um só manancial, a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição, unidas como as águas de um rio o estão ao seu leito. Assim, é impossível conceber uma Escritura independente da Sagrada Tradição, nem uma Sagrada Tradição independente da Escritura. Não há necessidade de subordinar para unir, nem de separar para distinguir. Ambas são e formam a vida da Igreja.
A Sagrada Tradição explica as Escrituras santas
A Sagrada Tradição da Igreja é onde melhor encontramos a interpretação e compreensão correta daquilo que Deus diz na Sagrada Escritura e de onde extraímos as certezas de todas as verdades reveladas por Ele e que não podem ser conhecidas apenas com as Escrituras. E isso é assim por estar na Sagrada Tradição a condensação dos estudos e escritos que os santos dos primeiros séculos do cristianismo fizeram das divinas letras.
Esses homens, ainda que menos imbuídos de erudição profana e de conhecimento de línguas que os estudiosos modernos, no entanto, se distinguem por certa suave perspicácia das coisas celestes e pela agudeza de raciocínio, pelas quais penetram nas profundidades da palavra divina e põem em evidência tudo quanto pode conduzir ao conhecimento da doutrina de Cristo e à santidade[4].
A Escritura, além do mais, necessita da Sagrada Tradição para que conheçamos a sua existência, a sua legitimidade, a sua autenticidade e a sua integridade[5].
Por outro lado, a Sagrada Tradição não poderia dar vida à Igreja se estivesse à margem da Sagrada Escritura, já que não foi assim que atuaram os seus testemunhos, que em seus escritos mostram extraordinariamente como amaram os livros santos.
E para entender definitivamente a união inseparável que há entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura, basta que digamos que a Sagrada Tradição não é outra coisa que a mesma vida da Igreja. Vida que se desenvolve e continua a se desenvolver organicamente desde seu nascimento, passando pelos escritos de pessoas santas, que souberam aproveitar-se dos tesouros contidos nos livros sagrados para enriquecer e dar vigor à Igreja. Vida que o Magistério Eclesiástico incrementa com o alento dado pelo Espírito, que é quem, da parte de Jesus Cristo, ensina a verdade (cfr Jo 14, 15-26).
Por tanto, não há nenhuma sombra de dúvida de que a Sagrada Tradição não só produz um influxo vital para a vida da Igreja, se não que é a mesma vida da Igreja, porque, intimamente unida e compenetrada com a Sagrada Escritura, busca a gloria de Deus e a participação de toda a criação nessa gloria.
Daí que a Igreja, no empenho de tronar prática as aportações do Concílio Vaticano II, tem estudado e atualizado os seus documentos, como o fez no último Sínodo sobre a Palavra. E fruto desse empenho são estas palavras do Papa Bento XVI: “é importante que o Povo de Deus seja educado e formado claramente para se abeirar das Sagradas Escrituras na sua relação com a Tradição viva da Igreja, reconhecendo nelas a própria Palavra de Deus. É muito importante, do ponto de vista da vida espiritual, fazer crescer esta atitude nos fiéis”[6].




[1] Constituição “Dei Verbum”, n. 21


[2] Constituição “Dei Verbum”, n. 9


[3] Constituição “Dei Verbum”,, n 10


[4] Cfr. Papa Pio XII, “Divino afflante Spiritu”, em Enchiridion Biblicum, n. 554, pp. 219-220.


[5] Constituição “Dei Verbum”, n. 8


[6] Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Pós Sinodal “Verbum domini”, n. 18.

http://www.presbiteros.com.br/site/a-sagrada-escritura-e-a-sagrada-tradicao/

El video mas misterioso e impactante del mundo

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Adão e Eva existiram verdadeiramente?



O livro do Gênesis, em seus três primeiros capítulos, usa de lin­guagem figurada para enunciar verdades perenes. Visto que já temos comentado tal matéria repetidarnente, limitar-nos-emos abaixo a res­ponder estritamente a questão do título deste artigo, questão aliás freqüentemente formulada e nem sempre devidamente elucidada.
Eis o que se deve guardar a propósito:
1) O Senhor Deus criou o ser humano masculino e feminino (sem que esteja excluída a evolução da matéria preexistente até chegar ao grau de complexidade do corpo humano);
2) O Senhor concedeu aos primeiros pais urna especial graça espi­ritual chamada “justiça original”, que conferia ao homem eminente digni­dade;
3) Consequentemente o Criador indicou aos primeiros pais um modelo de vida, figurado pela proibição de comer a fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Já que o homem era elevado a especial com­unhão com Deus, devia comportar-se não simplesmente de acordo com seu bom senso ou suas intuições racionais, mas segundo as normas correspondentes a sua dignidade de filho de Deus;
4) O homem, por soberba, disse Não a esse modelo de vida ou ao convite do Criador, perdendo assim a justiça original.
Pois bem. Adão e Eva representam o ser humano assim tratado por Deus. São tão reais quanto é real o gênero humano. Deus se apre­sentou ao homem nas suas origens, … ao homem real e não a um ser fictício. Verdade é que Adão e Eva são nomes de origem hebraica; não podem ser os nomes dos primeiros seres humanos, mas representam os primeiros seres humanos.
Há quem indague a respeito do aspecto físico dos primeiros ho­mens: eram belos, como dão a entender certos quadrinhos e filmes catequéticos?
Respondemos que a tradição judaico-cristã – sempre julgou que os primeiros pais eram dotados de harmonia ou beleza física correspondente as riquezas sobrenaturais de sua alma; terão perdido esse encanto após o pecado, gerando e então uma estirpe caracterizada por traços somáticos primitivos e cultura rudimentar; tal é, sim, a linhagem de que nos falam os fósseis. – Contudo não há necessidade de admitir que Adão tenha sido fisicamente mais belo e culturalmente mais evoluído do que os demais homens da pré-história; pode-se muito bem conceber que os dotes de alma que ele possuía, não se espelhavam sobre o seu corpo; a manifestação desses dons estava condicionada a perseverança de Adão no estado de inocência. O primeiro pai, porém, não perseverou; por isto, não se terá diferenciado, no plano meramente natural, dos demais ho­mens pré-históricos.
Não se deve acentuar exageradamente a perfeição do estado pri­mitivo da humanidade dito “de justiça original”. Terá sido um estado digno de todo apreço, mas do ponto de vista religioso e moral apenas, não sob o aspecto da civilização ou da cultura. Os primeiros homens de que fala o Gênesis, podem muito bem ter tido a configuração rudimentar e grosseira de que dão indícios os fósseis da pré-história; não é necessá­rio que hajam vivido de modo diferente daquele que conjeturam as ciên­cias naturais. Mesmo as idéias religiosas de Adão poderão ter sido pu­ras, sim, mas sob a forma de intuições concretas semelhantes as dos povos primitivos e das crianças; não se tratava de altos conhecimentos teológicos. – Vê-se, pois, que as clássicas descrições do “paraíso terres­tre” não devem em absoluto ser identificadas com a doutrina da fé.
D. Estevão Bettencourt
Ver PR 390/1994, pp. 521ss; 343/1995, pp. 55s; 425/1997, pp. 442ss