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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O mal do século é a ignorância religiosa




Penso que no século 21, cheios de informação e tecnologia, temos um mal gravíssimo como é a ignorância religiosa. Não é por falta de religiões, nem movimentos religiosos, mas falta interesse da verdadeira doutrina. Hoje temos pseudo religiões que são ótimas em questões práticas, mas de espiritualidade NADA! O homem moderno peca de sensibilidade, identificando Fé com sentimento. Por tal motivo a pregação destes neo-movimentos é para pessoas em tribulação, problemas, insônia, etc. manifestando como o mundo moderno estressa, deprime e deixa doente a qualquer um. Mundo consumista e prático. E Deus, Jesus Cristo e sua Igreja esta fora! Só entra neste mundo se soluciona os problemas do homem e da mulher; e do jeito que eles querem! Tornando Deus Nosso Senhor, uma “marionete” do homem de hoje.

Nesta altura alguém se pergunta: e por que tem tanto sucesso? E este aparente sucesso balança a mais de um na mudança de sua fé! Podemos responder que por vários motivos; humanos todos; investimento, propaganda, mídia, radio ou TV, etc. Mas um dos mais forte é a ignorância religiosa; o Cristão não sabe a doutrina cristã. Não sabe verdades fundamentais da nossa Santa Fé:

*Fé inerente a nossa alma. A fé não é sentimento. O sentimento é do corpo e não da alma.

*Jesus Cristo Filho de Deus. E por isto da mesma Natureza do Pai, Divina. Jesus é Deus!

*O pecado, que é uma transgressão voluntária da Vontade de Deus. Isto é os Mandamentos que devemos saber para não os transgredir.

*A Graça Santificante, que é uma participação da Vida Divina. É a graça de Jesus Cristo que pela qual nos santificamos.

*Eucaristia: A Missa é um Sacrifício. É uma renovação do Sacrifício Redentor da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santo Altar. Por isso, não é uma simples Ceia ou Reunião de Fieis.

Mais ainda, verdades como Céus, Purgatório e Inferno.  Muitas vezes questionadas por não ser conhecidas profundamente.

E temos verdades que o povo não sabe ou esqueceu que estão no Credo Apostólico.

O homem moderno substitui estas verdades do Cristianismo com falsas verdades o pior com meias verdades! Substitui por que o homem, ser inteligente, não pode ficar ignorante por muito tempo. Substitui por verdades orientais, que negam o pecado, procurando falsas felicidades. Substitui as práticas cristãs de oração por “meditações orientais” que são mantras repetitivos, que servem para relaxar e não para pensar, refletir ou raciocinar que é o que significa a palavra cristã de Meditação. Substitui com verdades bíblicas interpretadas sempre do “meu jeito” ou como algum pregador entendeu! E pior ainda, abrindo a bíblia para encontrar uma palavra ou frase, que será interpretada de “meu jeito”, que para “mim” será uma mensagem particular. Esta prática é tentar a Deus, forçando a Deus a realizar um milagre, que não é necessário. Deus falou, o escritor sagrado escreveu e você tem que se esforçar para entender; por isso Deus te fez a sua imagem e semelhança, isto é inteligente! Entender a Vontade de Deus é um exercício de toda a nossa vida.

Substituir as verdades cristãs está sendo contraditório, inconseqüente, ignorante na fé.

Voltemos a Santa Missa. Voltemos à sã doutrina de Jesus Cristo. Voltemos a Direção Espiritual seria, com um sacerdote qualificado, com experiência na vida espiritual. O tempo é curto!

Que Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria Santíssima nos concedam a graça de sair da ignorância religiosa e ajudar a nossos irmãos a ter e entender as verdades de nossa fé Cristã e nossos Ritos Católicos.




Padre Héctor
Vigário Paroquial
Paróquia Santo Expedito e Menino Jesus.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cristo deveria sofrer na cruz?




Parece que Cristo não deveria sofrer na cruz:
1. Com efeito, a realidade deve corresponder à prefiguração. Ora, no passado, todos os sacrifícios do Antigo Testamento ocorreram como figura de Cristo e neles os animais eram mortos pela espada, sendo depois cremados. Logo, parece que Cristo não deveria morrer na cruz, mas, de preferência, pela espada ou pelo fogo.
2. Além disso, Damasceno diz que Cristo não tinha de assumir “sofrimentos ignominiosos”. Ora, a morte de cruz parece absolutamente repugnante e ignominiosa; tanto assim que diz o livro da Sabedoria: “Condenemo-lo a uma morte infame” (2, 20). Logo, parece que Cristo não deveria sofrer a morte de cruz.
3. Ademais, falando de Cristo, diz o Evangelho de Mateus: “Bendito seja, em nome do Senhor, aquele que vem!” (21, 9). Ora, a morte de cruz era uma morte maldita, segundo o livro do Deuteronômio: “O que pende do madeiro é uma maldição de Deus” (21, 23). Logo, parece que não era conveniente Cristo ter sido crucificado.
Em sentido contrário, diz a Carta aos Filipenses: “Ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
RESPONDO: Foi muitíssimo conveniente ter Cristo sofrido a morte numa cruz.
Primeiro, como um exemplo de virtude. É o que diz Agostinho: “A sabedoria de Deus tornou-se homem para nos dar exemplo de honestidade de vida. É próprio, porém, da vida honesta não temer o que não deve ser temido. Há, contudo, homens que, embora não tenham medo da morte em si, tem horror a um determinado tipo de morte. Assim, para que o homem de vida honesta não temesse nenhum tipo de morte, teve de lhe ser mostrado na cruz qual a morte daquele homem, pois entre todos os gêneros de morte nenhum foi mais execrável e temível que esse”.
Segundo, porque esse tipo de morte era de máxima conveniência para satisfazer o pecado de nosso primeiro pai, pecado que consistiu em ter ele comido o fruto da árvore proibida, contrariando a ordem de Deus. Assim, foi conveniente que Cristo, a fim de dar satisfação por esse pecado, suportasse ser ele próprio afligido no madeiro, como quem restitui o que Adão roubara, segundo o que diz o Salmo 68: “Então pagarei o que não roubei” (v. 5). Por isso, diz Agostinho: “Adão desprezou uma ordem ao colher o fruto da árvore, mas o que Adão perdeu, Cristo o adquiriu na cruz”.
Terceiro, porque, como diz Crisóstomo: “Sofreu no alto do madeiro e não dentro de casa a fim de purificar até mesmo a natureza do ar. Mas também a terra sentia os efeitos desse benefício, limpa que era pelo gotejar do sangue a escorrer de seu lado”. E a respeito do que diz o Evangelho de João: “É preciso que o Filho do Homem seja levantado” (3, 14) observa Teofilato: “ao ouvires ‘que seja levantado’, deves entender que foi elevado para o alto, a fim de que santificasse o ar aquele que santificara a terra, ao caminhar sobre ela”.
Quarto, porque, por ter morrido no alto da cruz, prepara-nos a subida ao céu, como diz Crisóstomo. Daí ter dito o próprio Cristo conforme o Evangelho de João: “Se for elevado da terra, atrairei a mim todos os homens” (12, 32-33).
Quinto, porque essa morte é adequada à completa salvação do mundo inteiro. Por isso, diz Gregório de Nissa: “A representação da cruz, que se estende por quatro extremidades a partir de um ponto de união central, significa o universal poder e providência daquele que nela está pendente”. – E também Crisóstomo afirma de Cristo na cruz: “Morre de braços abertos, a fim de atrair com uma das mãos o povo antigo e com a outra os que ainda são pagãos”.
Sexto, porque, por esse tipo de morte, designam-se várias virtudes. Assim, afirma Agostinho: “Não foi em vão que escolheu esse tipo de morte a fim de se mostrar mestre da largura e da altura, do comprimento e da profundidade”, das quais fala o Apóstolo. “A largura está representada no madeiro que se apóia transversalmente na parte de cima; refere-se às boas obras porque nele é que se estendem os braços. O comprimento, no tronco que desce da travessa até o chão; nele de certo modo está apoiado, ou seja, mantém-se estável e firme, o que é próprio da longanimidade. A altura está naquela parte do madeiro que se eleva acima da parte transversal, ou seja, onde está a cabeça do crucificado; é a suprema expectativa dos que têm justa esperança. Já a parte do madeiro oculta e fincada na terra e de onde se levanta toda a estrutura significa a profundidade da graça gratuita”. E como diz Agostinho no comentário ao Evangelho de João, “o madeiro no qual estavam pregados os membros do padecente foi igualmente a cátedra do mestre a ensinar”.
Sétimo, porque esse gênero de morte corresponde a muitas figuras. Como diz Agostinho: “Uma arca de madeira salvou o gênero humano do dilúvio das águas; ao se afastar o povo de Deus do Egito, Moisés dividiu o mar com o bastão, vencendo o Faraó e redimindo o povo de Deus; o mesmo bastão Moisés lançou às águas, e de salgadas as tornou doces; com esse bastão faz jorrar da rocha espiritual uma água salutar; e, para vencer Amalec, Moisés mantém os braços abertos ao longo do bastão; e a lei de Deus é posta na arca de madeira do Testamento; de modo que, por tudo isso, como que por degraus, se chegasse ao madeiro da cruz”.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. O altar dos holocaustos em que se ofereciam os sacrifícios dos animais era de madeira, como consta no livro do Êxodo. Nisso a realidade corresponde à figura. E, como diz Damasceno, “essa correspondência não precisa se dar sob todos os aspectos, pois já não seria semelhança, mas realidade”. – E especialmente, como afirma Crisóstomo, “não lhe decepam a cabeça, como a João; nem é cortado ao meio, como Isaías; a fim de que fosse entregue à morte um corpo íntegro e indiviso, não se dando assim motivo aos que querem dividir a Igreja”. – Em vez do fogo material, porém, esteve presente no holocausto de Cristo o fogo da caridade.
2. Cristo recusou assumir sofrimentos ignominiosos que contivessem falta de ciência ou de graça ou mesmo de virtude. Mas não os que se referem a injúria causada por outros; antes, como diz a Carta aos Hebreus: “Suportou a cruz, desprezando a vergonha” (12, 2).
3. Como diz Agostinho, o pecado é amaldiçoado e, conseqüentemente, assim é a morte e a mortalidade que dele provém. “A carne de Cristo, porém, era mortal, ‘por ser semelhante à carne do pecado’”. Por isso, Moisés a chama de “maldição”, como o Apóstolo a chama de “pecado”, quando diz: “Aquele que não conhecera o pecado fez-se pecado por nossa causa” (2 Cor 5, 21), ou seja, pela pena do pecado. “Nem há nisso maior ignomínia porque o chama de ‘maldito por Deus’. Pois se Deus não odiasse o pecado, não teria enviado seu Filho para assumir nossa morte e a destruir. Confessa, portanto, ter aceito a maldição por nós aquele mesmo que confessa ter morrido por nós”. Daí o que diz a Carta aos Gálatas: “Cristo nos libertou da maldição da lei, tornando-se ele mesmo maldição por nós” (3, 13).
Fonte: Suma Teológica III, 46, 4.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Alguém pode ser completamente feliz nesta vida?



Parece que é possível ter a bem-aventurança nesta vida:
1. Com efeito, diz o Salmo 110: “Felizes os imaculados no caminho, que andam na lei do Senhor”. Ora, isso acontece nesta vida. Logo, alguém pode ser nesta vida bem-aventurado.
2. Além disso, a imperfeita participação no sumo bem não afasta a razão de bem-aventurança, pois, caso contrário, um não seria mais bem-aventurado do que o outro. Ora, os homens nesta vida podem participar do sumo bem, conhecendo e amando Deus, embora imperfeitamente. Logo, o homem nesta vida pode ser bem-aventurado.
3. Ademais, o que por muitos é dito, não pode ser totalmente falso. Parece, pois, que é natural o que está em muitos, poi a natureza não falha totalmente. Ora, muitos afirmam a bem-aventurança nesta vida, como se lê no Salmo 143: “Feliz o povo em que se encontram essas coisas”, isto é, os bens da vida presente. Logo, alguém nesta vida pode ser bem-aventurado.
Em sentido contrário, lê-se no Livro de Jó: “O homem nascido de mulher vive por pouco tempo, e está cheio de tantas misérias” (14, 1). Mas, a bem-aventurança exclui a miséria. Logo, o homem nesta vida não pode ser bem-aventurado.
RESPONDO. Alguma participação na bem-aventurança é possível nesta vida, mas a perfeita e verdadeira bem-aventurança é impossível tê-la nesta vida. De dois modos isso pode ser considerado.
Primeiro, pela mesma razão comum de bem-aventurança. A bem-aventurança sendo o bem perfeito e suficiente, exclui todo o mal e satisfaz todo desejo. No entanto, esta vida está submetida a muitos males, que não podem ser evitados, como a ignorância por parte do intelecto, as desordenadas afeições por parte do apetite, muitos tormentos por parte do corpo, como Agostinho enumera diligentemente. Igualmente nesta vida o desejo do bem não pode ser saciado. Com efeito, naturalmente deseja o homem que permaneçam os bens que possui. Não obstante, os bens desta vida são transitórios, como ela mesma é passageira, embora naturalmente a desejemos e queiramos nela permanecer para sempre, até porque, por sua natureza, o homem foge da morte. Portanto, é impossível ter nesta vida a bem-aventurança perfeita.
Segundo, considerando-se aquilo em que a bem-aventurança especialmente consiste, ou seja, a visão da essência divina, que não pode o homem atingir nesta vida. Do exposto fica patente que alguém não pode nesta vida conseguir a verdadeira e perfeita bem-aventurança.
Quanto aos argumentos iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Alguns são ditos bem-aventurados nesta vida, ou por causa da esperança de alcançar a bem-aventurança na vida futura, segundo se lê na Carta aos Romanos: “Somos salvos pela esperança” (8, 24); ou por cauã de alguma participação na bem-aventurança por um certo gozo do sumo bem.
2. A participação da bem-aventurança pode ser imperfeita de dois modos. Primeiro, quanto ao objeto da bem-aventurança, o qual certamente não se vê em sua essência. Essa imperfeição anula a razão de verdadeira bem-aventurança. Segundo, quanto ao sujeito da participação, que atinge certamente o objeto da bem-aventurança em si mesmo, que é Deus, mas, imperfeitamente, em comparação com o modo como Deus frui de si mesmo. Esta imperfeição não anula a verdadeira razão de bem-aventurança, porque como a bem-aventurança é uma ação, como já foi dito, a verdadeira razão de bem-aventurança deriva do objeto, que especifica o ato, não do sujeito.
3. Os homens julgam que nesta vida há alguma bem-aventurança, devido a uma certa semelhança com a verdadeira bem-aventurança. Assim sendo, não falham totalmente no que pensam.
Fonte: ST, I-II, 5, 3


terça-feira, 2 de outubro de 2012

O anjo pode iluminar o homem?


Parece que o anjo não pode iluminar o homem:
1. Com efeito, o homem é iluminado pela fé, tanto que Dionísio atribui a iluminação ao batismo, o sacramento da fé. Ora, a fé vem diretamente de Deus, como se diz na Carta aos Efésios: “É pela graça que vós sois salvos por meio da fé; e isso não depende de vós, é dom de Deus” (2, 8). Logo, o homem não é iluminado pelo anjo, mas imediatamente por Deus.
2. Além disso, a passagem da Carta aos Romanos que diz: “Deus lhes manifestou” (1, 19), a Glosa diz: “Não somente a razão natural foi útil manifestando aos homens as coisas divinas, mas ainda o próprio Deus lhes revelou por meio de sua obra”, ou seja, por meio das criaturas. Ora, tanto a razão natural como as criaturas, vêm imediatamente de Deus. Logo, Deus ilumina o homem de modo imediato.
3. Ademais, o que é iluminado conhece sua iluminação. Ora, os homens não percebem que são iluminados pelos anjos. Logo, não o são.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, Dionísio prova que as revelações das coisas divinas chegam aos homens mediante os anjos. Essas revelações são iluminações. Portanto, os homens são iluminados pelos anjos.
RESPONDO. Pela ordem da divina providência os inferiores se submetem às ações dos superiores. Assim como os anjos inferiores são iluminados pelos superiores, assim os homens, inferiores aos anjos, são por eles iluminados.
Contudo, o modo de uma e outra iluminação às vezes é semelhante e às vezes diferente. Acima se disse [em outro artigo] que a iluminação que é a manifestação da verdade divina pode ser considerada segundo dois aspectos: enquanto o intelecto inferior é reforçado pela ação do intelecto superior, e enquanto o superior propõe ao inferior as espécies inteligíveis que possui, a fim de que ele possa captá-las. Assim se passa com os anjos, quando um anjo superior partilha uma verdade universal concebida segundo a capacidade de um anjo inferior. Todavia, o intelecto humano não pode receber uma verdade inteligível pura, posto que sua natureza exige que conheça voltando-se para as representações imaginárias [tema interessantíssimo que espero também postar aqui]. Por isso os anjos comunicam aos homens a verdade inteligível por intermédio das imagens sensíveis. Como diz Dionísio: “É impossível que brilhe para nós um raio divino a não ser envolto por diversos véus sagrados”. Por outro lado, o intelecto humano, enquanto inferior, é fortalecido pela ação do intelecto angélico. Portanto, por essas duas maneiras se considera a iluminação pela qual o homem é iluminado pelo anjo.
Quanto às objeções iniciais, deve-se dizer, portanto, que:
1. São dois os requisitos para a fé. Primeiro, um habitus [ver Vocabulário dos termos utilizados por Sto. Tomás na Suma Teológica] do intelecto pelo qual se dispõe a obedecer à vontade que se inclina para a verdade divina. Com efeito, o intelecto dá seu assentimento à verdade da fé não por ser convencido pela razão, mas por ser obrigado pela vontade. Como diz Agostinho: “Ninguém crê a não ser porque quer”. Com respeito a isso, a fé vem exclusivamente de Deus. Segundo, que as verdades a serem cridas sejam propostas ao crente. E isso se faz pelo homem, pois “a fé vem pelo ouvido”, como diz a Carta aos Romanos (10, 17), mas principalmente pelos anjos, por meio de quem são reveladas aos homens as coisas de Deus. Portanto, os anjos realizam algo na iluminação da fé. Ademais, os homens são iluminados pelos anjos não somente a respeito do que crer, mas também do que agir.
2. A razão natural, que vem imediatamente de Deus, pode ser fortalecida pelo anjo, como foi dito. E igualmente, a verdade inteligível que resulta das espécies recebidas das criaturas é tanto mais elevada quanto mais forte for o intelecto humano. Desse modo o homem é ajudado pelo anjo para alcançar um conhecimento mais perfeito de Deus por meio das criaturas.
3. A operação intelectual e a iluminação podem ser consideradas de duas maneiras. Primeiro, da parte da coisa conhecida. Sob esse aspecto, aquele que conhece ou é iluminado, conhece que conhece ou que é iluminado, porque conhece que a coisa lhe é manifestada. Segundo, da parte do princípio: neste caso, nem todo o que conhece alguma verdade conhece o que é o intelecto, princípio da atividade intelectual. De modo semelhante, nem todo o que é iluminado por um anjo conhece que é iluminado pelo anjo (Nota: Explicação que não vale apenas para o papel dos anjos na Revelação, mas para todas as “iluminações” que podem deles provir, sem que o saibamos de modo algum).
Fonte: ST I, 111, 1


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Mãe de Deus foi virgem ao conceber Cristo?


Parece que a Mãe de Deus ao conceber Cristo:
1. Com efeito, nenhum filho que tem pai e mãe é concebido de mãe virgem. Ora, de Cristo se diz não só que teve mãe, mas também pai: “Seu pai e sua mãe estavam admirados do que se dizia do menino”, está no Evangelho de Lucas (2, 33). E mais adiante: “Eis que teu pai e eu te buscávamos angustiados” (v. 48). Logo, Cristo não foi concebido de mãe virgem.
2. Além disso, o início do evangelho de Mateus prova que Cristo foi filho de Abraão e de David porque José era descendente de David. Tal prova ficaria sem valor se José não fosse pai de Cristo. Parece, pois, que a mãe de Cristo o concebeu pela união com José. Não parece, portanto, que tenha sido virgem ao conceber.
3. Ademais, a Carta aos Gálatas diz: “Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (4, 4). Ora, na linguagem corrente, o termo mulher designa aquela que tem relações com um homem. Logo, Cristo não foi concebido de mãe virgem.
4. Ademais, os que são da mesma espécie são gerados da mesma forma, porque a geração, como qualquer outro movimento, recebe a sua especificação pelo término. Ora, Cristo foi da mesma espécie que os outros homens, como diz a Carta aos Filipenses: “Tornou-se semelhante aos homens e foi reconhecido como homem pelo seu comportamento” (2, 7). Logo, dado que os outros homens são gerados pela união do homem e da mulher, parece que também Cristo teve de ser gerado de modo semelhante. E, portanto, não foi concebido de mãe virgem.
5. Ademais, qualquer forma natural tem uma matéria determinada para ela, fora da qual não pode existir. Ora, a matéria da forma humana parece ser a semente do homem e da mulher. Logo, se o corpo de Cristo não tivesse sido concebido da semente do homem e da mulher, não teria sido um verdadeiro corpo humano, o que não é conveniente. Parece, pois, que não foi concebido por mãe virgem.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, está o que diz Isaías: “Eis que a Virgem conceberá” (7, 14).
RESPONDO. É absolutamente necessário confessar que a mãe de Cristo concebeu virgem. O contrário é a heresia dos ebionitas e de Cerinto, que julgavam Cristo um homem ordinário e pensavam ter ele nascido da união dos sexos. Quatro são as razões que mostram a conveniência da concepção virginal de Cristo.
Primeiro, para salvaguardar a dignidade do Pai que o envia. Pois dado que Cristo é verdadeiro Filho de Deus por natureza, não convinha que tivesse outro Pai fora de Deus, para não transferir a outrem a dignidade de Deus.
Segundo, isso convinha ao que é próprio do Filho enviado. Pois ele é o Verbo de Deus. Ora, o Verbo é concebido sem nenhuma corrupção do coração; mais ainda, a corrupção do coração é incompatível com a concepção de um verbo perfeito. Dado, pois, que a carne foi assumida pelo Verbo de Deus para ser carne do Verbo de Deus, convinha também que ela mesma fosse concebida sem a corrupção da mãe.
Terceiro, isso convinha à dignidade da humanidade de Cristo, na qual não podia haver lugar para o pecado, pois por ela seria tirado o pecado do mundo, como diz o Evangelho de João: “Eis o Cordeiro de Deus”, ou seja, o inocente, “que tira o pecado do mundo” (1, 29). Mas, numa natureza já corrompida pela união do homem e da mulher, a carne não poderia nascer sem a contaminação do pecado original*. Por isso afirma Agostinho: “Só não houve aí, a saber, no matrimônio de Maria e José, a relação conjugal, porque não poderia dar-se tal relação na carne de pecado sem a concupiscência da carne, que provém do pecado, e sem a qual quis ser concebido aquele que não deveria ter pecado”.
* O ato conjugal não é “corrompido”, e apesar de certas concessões a uma linguagem agostiniana, Sto. Tomás não pensa nem ensina que a transmissão do pecado original proviria do que a sexualidade teria de desordenado, mas só do fato de que ela transmite a natureza “corrompida” (o que significa: privada da graça original). Ele não diz tampouco que, se Jesus tivesse nascido de uma união conjugal teria necessariamente contraído o pecado original, coisa que a união hipostática torna impensável. Independente da maneira como Cristo foi concebido, a “carne” que ele faz sua está toda ela e desde sua origem mais profunda submetida ao espírito, a Deus.
Quarto, pela finalidade mesma da encarnação de Cristo, que se destinava a fazer renascer os homens como filhos de Deus, “não pela vontade da carne, nem pela vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1, 13), isto é, pelo poder de Deus. O modelo deste renascimento tinha de manifestar-se na própria concepção de Cristo. Por isso escreve Agostinho: “Era necessário que a nossa cabeça nascesse, segundo a carne, de uma virgem, por um milagre extraordinário, para significar que seus membros deveriam nascer, segundo o espírito, da virgem que é a Igreja”.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Segundo Beda: “José era chamado pai do Salvador, não porque o fosse verdadeiramente, como afirmam os focinianos, mas foi como tal considerado pelos homens para salvaguardar a reputação de Maria”. É por isso que diz o Evangelho de Lucas: “E, segundo se pensava, filho de José” (3, 23).
Ou, como diz Agostinho, José é chamado pai de Cristo da mesma maneira que “é tido por esposo de Maria, sem comércio carnal, mas pelo vínculo do matrimônio; e assim esteve unido muito mais estreitamente a Cristo do que se o tivesse adotado de outra forma. E o fato de não o ter gerado por meio da união carnal não era motivo para deixar de chamá-lo pai de Cristo, pois também seria pai de alguém que tivesse sido adotado, mesmo que não tivesse sido gerado pela sua esposa”.
2. Segundo Jerônimo: “Mesmo que José não fosse o pai de Senhor e Salvador, a genealogia de Jesus se prolonga até José porque, em primeiro lugar, as Escrituras não costumam estabelecer uma genealogia seguindo a ordem das mulheres. E, em segundo lugar, porque Maria e José eram da mesma tribo, e por isso era obrigado pela lei a tomá-la por esposa”. E, como diz Agostinho: “era preciso prolongar a série das gerações até José para que não se fizesse afronta, neste matrimônio, ao sexo masculino que é superior; dessa forma em nada sofria a verdade, uma vez que José e Maria eram da linhagem de David’.
3. Como afirma a Glosa, na passagem referida: “Utilizou a palavra mulher em vez de fêmea, seguindo a maneira de falar dos hebreus. A palavra mulher, no uso dos hebreus, não designa aquelas que perderam sua virgindade, mas se refere ao sexo feminino em geral”.
4. Este argumento é válido para os que vêm à existência por vias naturais. Pois assim como a natureza está determinada a produzir um só efeito, assim também está determinada a produzi-lo de uma única maneira. Mas o poder sobrenatural de Deus, sendo infinito, não está determinado a produzir um único efeito, nem a produzi-lo de uma maneira determinada. Por isso, da mesma forma que o poder de Deus pôde formar o primeiro homem do pó da terra, assim também pôde formar o corpo de Cristo de uma virgem sem a intervenção do homem.
5. Segundo o Filósofo, no livro da Geração dos Animais, o sêmen do macho não desempenha o papel da matéria na concepção do animal, mas age só como princípio ativo. Só a fêmea fornece a matéria na concepção. Daí que, pelo fato de ter faltado o sêmen do macho na concepção do corpo de Cristo, não se segue que lhe faltasse a matéria devida.
Mas, mesmo na hipótese de que, nos animais, o sêmen do macho fosse a matéria do feto concebido, é evidente que não se trata de uma matéria que permaneça sob a mesma forma, mas de uma matéria transformada. E, embora o poder natural só possa transformar uma certa matéria em determinada forma, o poder de Deus, que é infinito, pode transformar qualquer matéria em qualquer forma. E assim como transformou o pó da terra no corpo de Adão, assim também pôde transformar no corpo de Cristo a matéria proporcionada pela mãe, ainda que não fosse matéria suficiente para uma concepção natural.
Fonte: ST III, 28, 1


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A soberba é o início de todos os pecados?



"Parece que a soberba não é o início de todo pecado:
1. Com efeito, a raiz é um certo princípio da  árvore. Assim parece que é o mesmo a raiz e o princípio do pecado. Ora, foi dito que a avareza é a raiz de todos os pecados. Logo, ela é também, e não a soberba, o início de todo pecado.
2. Além disso, o livro do Eclesiástico diz que “o início da soberba humana está na apostasia de Deus” (10, 14(12)). Ora, esta apostasia é um pecado determinado. Logo, algum pecado é o início da soberba, e não é ela o início de todo pecado.
3. Ademais, parece ser o início de todos os pecados, o que faz todos os pecados. Ora, tal é o amor desordenado de si mesmo que “faz a cidade de Babilônia”, como diz Agostinho. Logo, o amor de si é o início de todo pecado, e não a soberba.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, é o que diz o livro do Eclesiástico: “O início de todo pecado é a soberba” (10, 15(13)).
RESPONDO. Alguns dizem que a soberba significa três coisas: 1. O apetite desordenado da própria excelência, e assim é um pecado especial. – 2. Um certo desprezo atual de Deus, com o efeito de não submissão aos seus mandamentos: então se diz que é um pecado geral. – 3. Uma certa tendência da natureza corrompida a este desprezo, e assim dizem que é o início de todo pecado. Ela difere da avareza, porque a avareza no pecado diz respeito à conversão ao bem mutável na qual o pecado encontra de certo modo seu alimento e sustento.. É por isso que a avareza se diz raiz, mas a soberba no pecado diz respeito à aversão de Deus cujo preceito o homem recusa aceitar. É por isso que soberba é chamada o início, porque é pela aversão que começa a razão do mal.
Embora essas coisas sejam verdadeiras, não são segundo a intenção do sábio, que disse: “o começo de todo pecado é a soberba”. Com efeito, claramente ele fala da soberba enquanto apetite desordenado da própria excelência, como se vê claramente no que se segue: “Deus destruiu os tronos dos chefes orgulhosos”(v. 17(14)). É disto que o autor fala em todo capítulo. Eis porque deve-se dizer que a soberba, mesmo como pecado especial, é o começo de todo pecado. Deve-se considerar que nos atos voluntários, como são os pecados, há duas ordens: a da intenção é o fim que tem a razão de princípio. Ora, o fim do homem na aquisição de todos os bens deste mundo consiste em obter por eles uma certa perfeição e excelência. Por isso, na ordem da intenção, a soberba que é o desejo da excelência é tido como o começo de todo pecado. Mas na ordem da execução, é primeiro o que dá a oportunidade de realizar todos os desejos do pecado, o que tem a razão de raiz, a saber: as riquezas. Eis porque a avareza é tida, na ordem da execução, como a raiz de todos os males, como foi dito.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. A resposta está clara no que foi dito.
2. A apostasia de Deus é chamada o início da soberba pela aversão. Pois, pelo fato que o homem não quer submeter-se a Deus, segue-se que ele quer de modo não ordenado sua própria excelência nas coisas deste mundo. Assim, nesta passagem, a apostasia não é tomada como um pecado especial, mas como uma condição geral de todo pecado que é a aversão do bem imutável. – Pode-se ainda dizer que a apostasia de Deus é chamada o início da soberba porque é sua primeira forma. Pertence, pois, à soberba não submeter-se a alguém superior, e principalmente não querer submeter-se a Deus. Daí vem que o homem se eleva indevidamente acima de si mesmo segundo todas as outras formas de soberba.
3. O homem ama-se a si mesmo enquanto quer sua excelência, porque é a mesma coisa amar-se e querer o bem para si. Portanto, é o mesmo afirmar que o início de todo pecado é a soberba ou o amor próprio."
Fonte: ST I-II, 84, 3


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A avareza é a raiz de todos os pecados?



Aqui argumentos contundentes de Santo Tomas de Aquino sobre alguns dos pecados capitais, começando pela Avareza que tanto mal faz a nossa alma. O desenho é sobre a obra literária de Dante, no seu viagem pelo Inferno.
"Parece que a avareza não é a raiz de todos os pecados:
1. Com efeito, a avareza é o imoderado apetite das riquezas e opõe-se à virtude da liberalidade. Ora, a liberalidade não é a raiz de todas as virtudes. Logo, a avareza não é a raiz de todos os vícios.
2. Além disso, o desejo dos meios procede do desejo do fim. Ora, as riquezas, objeto da avareza, só são desejadas como meios úteis, como diz o livro I da Ética. Logo, a avareza não é a raiz de todo pecado, mas procede de outra raiz anterior.
3. Ademais, freqüentemente a avareza, também chamada cupidez, tem sua origem em outros pecados: por exemplo, deseja-se dinheiro para fins de ambição ou para satisfazer a gula. Logo, não é a raiz de todos os pecados.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, o Apóstolo diz: “A raiz de todos os males é a avareza” (I Tm 6, 10).
RESPONDO. Segundo alguns a avareza tem muitos sentidos: 1) o desejo desordenado das riquezas, e nesse sentido é um pecado especial. 2) o desejo desordenado de um bem temporal qualquer, e nesse sentido é gênero de todo pecado pois que em todo pecado há, como foi dito (q. 72, a. 2), uma conversão desmedida para um bem mutável. 3) emprega-se ainda o termo para significar a inclinação da natureza corrompida para os bens corruptíveis, e nesse sentido dizem que a avareza é a raiz de todos os pecados,à semelhança da raiz de uma árvore que tira seu alimento do solo, porque é do amor das coisas temporais que procede todo pecado.
Embora isso seja verdade, não parece que seja segundo a intenção do Apóstolo que disse que o desejo é a raiz de todos os pecados. Manifestamente ele fala contra aqueles que “por querer tornarem-se ricos, caem nas tentações e nos laços do diabo, porque a raiz de todos os males”, ele acrescenta, “é a cupidez”. Portanto é evidente que ele fala da cupidez como desejo imoderado das riquezas. E é neste sentido que é preciso dizer que o pecado especial da avareza é chamado a raiz de todos os pecados, à maneira de uma raiz que fornece o alimento à árvore inteira. Vemos, de fato, que o homem adquire com a riqueza a faculdade de cometer qualquer pecado e de realizar o desejo de qualquer pecado, porque o dinheiro pode ajudar a adquirir quaisquer bens neste mundo, segundo o livro do Eclesiastes: “Tudo obedece ao dinheiro” (10,19). E assim fica claro que a cupidez das riquezas é a raiz de todos os pecados.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. A virtude não tem a mesma origem que o pecado. O pecado tem sua origem no apetite dos bens mutáveis, e por isso o desejo destes bens que ajuda a obter todos os bens deste mundo é chamado a raiz dos pecados. A virtude, ao contrário, tem sua origem no desejo dos bens imutáveis, e por isso a caridade, que é o amor a Deus, se afirma a raiz das virtudes, segundo a Carta aos Efésios: “Enraizados e fundados na caridade” (3, 17).
2. O desejo do dinheiro se chama raiz dos pecados, não porque as riquezas são procuradas por si mesmas como um fim último, mas porque são muito procuradas como úteis para todos os fins temporais. Um bem universal sendo mais desejável que um bem particular, por isso move o desejo mais do que certos bens particulares, os quais podem ser possuídos pelo dinheiro, ao mesmo tempo com outros muitos.
3. Nas coisas naturais não se procura o que sempre acontece, mas o que acontece mais freqüentemente, pois a natureza das coisas corruptíveis pode ser impedida de agir sempre do mesmo modo. Assim, em moral, considera-se o que acontece na maioria das vezes, e não o que sempre acontece, porque a vontade não age por necessidade. A avareza, portanto, não se chama a raiz de todos os males porque às vezes um outro mal seja a sua raiz, mas porque é dela que mais freqüentemente nascem os outros males, pela razão já dada."
Fonte: ST I-II, 84, 1


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A bem-aventurança do homem consiste nas riquezas?



Objeções:" Parece que a bem-aventurança do homem consiste nas riquezas:
1. Com efeito, sendo a bem-aventurança o último fim do homem, ela consiste naquilo que ao máximo domina o afeto humano. Ora, no livro do Eclesiastes se diz: “Tudo obedece ao dinheiro” (10, 19). Logo, a bem-aventurança consiste nas riquezas.
2. Além disso, segundo Boécio: “A bem-aventurança é o estado perfeito da junção de todos os bens”. Ora, parece que pelo dinheiro poderão se adquirir todas as coisas, porque o Filósofo, no livro V da Ética, afirma que o dinheiro se inventou para ser a fiança de tudo aquilo que o homem quisesse possuir. Logo, a bem-aventurança consiste nas riquezas.
3. Ademais, como o desejo do sumo bem jamais acaba, parece ser infinito. Ora, isso se encontra ao máximo nas riquezas, porque diz o Eclesiastes que “o avaro jamais se satisfaz com as riquezas” (5, 9). Logo, a bem-aventurança consiste nas riquezas.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, consiste o bem do homem mais em conservar a bem-aventurança do que em perdê-la. Ademais, Boécio diz: “Mais brilham as riquezas quando são distribuídas do que quando conservadas. Por isso, a avareza torna os homens odiosos, a generosidade os torna ilustres”.

É impossível que a bem-aventurança do homem consista nas riquezas. Conforme o Filósofo diz no livro I da Política, há duas espécies de riquezas, as naturais e as artificiais. As riquezas naturais são aquelas pelas quais o homem é ajudado a compensar as deficiências naturais, como sejam, a comida, a bebida, as vestes, os veículos, a habitação, etc. As riquezas artificiais são aquelas que por si mesmas não auxiliam a natureza, como o dinheiro, mas a arte humana os inventou para facilitar as trocas, para que fossem como medidas das coisas venais.
É evidente que a bem-aventurança do homem não pode estar nas riquezas naturais. Buscam-se essas riquezas em vista de outra coisa, para sustentarem a natureza humana. Por isso, não podem ser o último fim do homem, porque não se ordenam ao homem como fim. Donde, na ordem natural, todas elas estão abaixo do homem, e são feitas em vista dele, conforme o Salmo 8: “Submetestes todas as coisas a seus pés” (v.8).
Não se buscam as riquezas artificiais senão por causa das naturais, pois não se buscariam, se não fosse porque por elas é comprado o que é necessário para o uso da vida. Por isso, têm muito menos razão de último fim. Logo, é impossível que a bem-aventurança, que é o último fim do homem, esteja nas riquezas.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Deve-se dizer que todas as coisas corporais obedecem ao dinheiro, devido à multidão dos estultos que só conhecem os bens corporais, que podem ser adquiridas por dinheiro. Mas o critério dos bens humanos não deve ser tomado dos estultos, mas dos sábios, como também o critério dos sabores, por aqueles que tem gosto apurado.
2. Pelo dinheiro pode-se ter todas as coisas venais, mas não as espirituais, que não podem ser vendidas. Donde dizer o livro dos Provérbios: “Que adianta aos estultos possuírem riquezas, não podendo comprar sabedoria?” (17, 16).
3. Deve-se dizer que o apetite das riquezas naturais não é infinito, porque são suficientes à natureza segundo alguma medida. No entanto, o apetite das riquezas artificiais é infinito, porque satisfaz à concupiscência desordenada, que é imutável, como esclarece o Filósofo no livro I da Política. Todavia, o desejo infinito das riquezas é diferente do desejo do sumo bem. Pois o sumo bem quanto mais perfeitamente é possuído, tanto mais é amado e desprezadas as outras coisas, porque quanto mais é possuído, mais é conhecido. Donde dizer o livro do Eclesiástico: “Os que me comem, tem ainda mais fome” (24, 29). Mas no apetite das riquezas e de quaisquer outros bens temporais, acontece o contrário. Possuídos esses bens, são logo desprezados e outros são desejados. Isto está significado nas palavras do Senhor: “Quem bebe desta água (que significa os bens temporais) tem ainda sede” (Jo 4, 13). E isso porque a insuficiência deles é mais conhecida quando possuídos. Assim sendo, isso manifesta a imperfeição deles e também que o sumo bem neles não consiste."
Suma Teológica I-II, q.2, a.1

domingo, 16 de setembro de 2012

Tomás responde: A amizade é uma virtude especial?



 Objeções: Parece que a amizade não é uma virtude especial:
1. Com efeito, Aristóteles afirma que “a amizade perfeita é aquela que se fundamenta na virtude”. Ora, toda virtude é causa de amizade, porque, segundo Dionísio, “o bom é amável para todo mundo”. Logo, a amizade não é uma virtude especial, mas a conseqüência de toda virtude.
2. Além disso, Aristóteles diz, a respeito de um amigo, “que não é nem por amor nem por falta de amor que ele recebe todas as coisas como convém”. Ora, quando alguém exibe sinais de amizade àqueles que não ama, pratica algo do gênero da simulação, que repugna à virtude. Logo, esta amizade não é uma virtude.
3. Ademais, Aristóteles diz que a “virtude se situa em um meio-termo determinado pelo sábio”. Ora, o livro do Eclesiástico afirma: “O coração dos sábios está na tristeza, o coração dos insensatos na alegria” (7, 5). Convém, portanto, ao homem virtuoso se precaver sobremaneira contra o prazer, como diz Aristóteles. E ele acrescenta que este tipo de amizade “deseja por si mesma compartilhar as alegrias e evita provocar tristeza”. Logo, esta amizade não é uma virtude especial.
Porém, em sentido contrário, os preceitos da lei têm por objeto os atos das virtudes. Mas o livro do Eclesiástico diz: “Faze-te afável na assembléia dos pobres” (4, 7). Por conseguinte, a afabilidade, que aqui se chama amizade, é uma virtude especial.
RESPONDO: Uma vez que a virtude se ordena para o bem, toda vez que ocorre uma razão especial de bem, aí também haverá uma razão especial de virtude. Mas o bem consiste na ordem. Ora, é preciso que as relações entre homens se ordenem harmoniosamente num convívio comum, tanto em ações quanto em palavras, ou seja, é necessário que cada um se comporte com relação aos outros de maneira conveniente. Por isso, é necessário uma virtude especial que mantenha a harmonia desta ordem. E esta virtude se chama amizade ou afabilidade.
Quanto às objeções acima, portanto, deve-se dizer que:
1. Aristóteles fala de duas amizades. A primeira consiste principalmente na afeição de um homem para com outro, e pode ser a conseqüência de qualquer virtude. O que se refere a esta amizade foi dito quando se tratou da caridade. – Mas ele fala de um segundo tipo de amizade que consiste unicamente em palavras ou atos exteriores. E esta não realiza de maneira perfeita a razão de amizade, mas tem com ela uma certa semelhança, na medida em que alguém se comporta decentemente com aqueles com quem convive.
2. Deve-se dizer que por natureza todo homem é amigo, com amor geral, segundo a palavra do Eclesiástico: “Todo ser vivo ama seu semelhante” (13, 19). E as pessoas manifestam este amor por sinais de amizade que se dirigem em palavras ou atos até mesmo aos estranhos e desconhecidos. E não existe simulação nisso. Porque não se dá a estas pessoas sinais de amizade perfeita, uma vez que não se pode ter com estranhos a mesma intimidade que se tem com aqueles a quem se está unido por uma amizade especial.
3. Quando se diz que o coração dos sábios está na tristeza, não se quer dizer que os sábios levam a seu próximo a tristeza, pois o próprio Paulo afirma: “Quando um irmão teu se mostra triste por causa da comida, tu já não estás te conduzindo segundo as normas da caridade” (Rm 14, 15). Ao contrário, estes sábios procuram levar um consolo aos que estão tristes, de acordo com o Eclesiástico: “Não dês as costas a quem chora e procura te afligir com os aflitos” (7, 38). – Mas, quando se diz que o coração dos insensatos está na alegria, não quer dizer que eles alegrem os outros, mas que se aproveitam da alegria alheia.
Pertence aos sábios trazer prazer para aqueles de cujo convívio participam. Não o prazer lascivo que a virtude recusa, mas o prazer honesto, de acordo com o Salmo: “Como é bom e agradável para os irmãos habitarem juntos!” (Sl 132, 1). Algumas vezes, porém, para conseguir um bem ou afastar um mal, o homem virtuoso não terá medo de entristecer seus companheiros, como diz Aristóteles. E Paulo diz: “Se com esta carta eu fiz vocês ficarem tristes, não me arrependo” (2 Cor 7, 8). E logo a seguir: “Eu me rejubilo, não por terdes ficado tristes, mas por esta tristeza vos ter levado à penitência”. E, por isso, não devemos mostrar um semblante alegre àqueles que se deixam levar pelo pecado, como se quiséssemos confortá-los, para que não pensem que temos cumplicidade com o pecado deles e que, de certa forma, estamos encorajando sua audácia no pecar. Assim, lemos no livro do Eclesiástico: “Tens filhas? Trata de preservar a pureza dos corpos delas, e não lhes mostres um semblante risonho” (7, 26).
(Suma Teológica, II-II, q.114, a.1)

O anjo é delegado à guarda do homem desde o seu nascimento?


Objeções iniciais: Parece que o anjnão é delegado à guarda do homem desde o seu nascimento:
1. Com efeito, os anjos são enviados “a serviço em proveito daqueles que recebem a salvação como herança”, diz o Apóstolo na Carta aos Hebreus (1, 14). Ora, os homens começam a receber essa herança quando são batizados. Logo, o anjo é delegado a guardar o homem desde o momento do batismo, e não desde o nascimento.
2. Além disso, os anjos guardam os homens iluminando-os pelo ensinamento da doutrina. Ora, aos recém-nascidos não são capazes de doutrina, pois não têm o uso da razão. Logo, aos recém-nascidos não são delegados anjos da guarda.
3. Ademais, a criança no seio materno possui em certo momento a alma racional, como a tem após o nascimento. Ora, ainda no seio materno não lhe são delegados anjos da guarda, pois nem sequer os ministros da Igreja lhes conferem os sacramentos. Portanto, não é logo após o nascimento que os anjos são delegados à guarda dos homens.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz Jerônimo: “Cada alma, desde o nascimento, tem um anjo delegado à sua guarda”.
Ao comentar o Evangelho de Mateus, Orígenes diz que, a esse respeito, há duas opiniões. Alguns disseram que o anjo é delegado à guarda do homem desde o batismo; outros já desde o nascimento. É esta a opinião que Jerônimo aprova e com razão. Os benefícios que o homem recebe de Deus pelo fato de ser cristão começam com o batismo; por exemplo, a recepção da Eucaristia e outros semelhantes. Todavia, os benefícios que Deus dispõe para o homem pelo fato de ele ter uma natureza racional lhe são concedidos desde o momento em que, pelo nascimento, adquire tal natureza. Ora, esse benefício é a guarda dos anjos como está claro pelo que foi dito anteriormente [art. 1]. Portanto, tão  logo nasce, o homem tem um anjo delegado para sua guarda.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Os anjos são enviados a serviço eficazmente só para aqueles que recebem a salvação como herança se considerarmos o último efeito de sua guarda, que é o recebimento da herança. Todavia, aos demais homens não é negado o serviço dos anjos, embora não seja eficaz em conduzi-los à salvação. Entretanto, é eficaz na medida em que os preserva de muitos males.
2. A guarda dos anjos tem como efeito último e principal a iluminação doutrinal. Todavia, tem muitos outros efeitos que interessam às crianças, como afastar demônios e evitar outros danos tanto espirituais como corporais.
3. A criança, enquanto se encontra no seio materno, não está totalmente separada da mãe, pois, em virtude de uma ligação especial, é ainda de alguma maneira parte dela, como o fruto que pende da árvore faz parte da árvore. Por isso se pode dizer como provável que o anjo da guarda da mãe guarda a prole que está em seu seio. Mas, ao nascer, ao separar-se da mãe, lhe é delegado o anjo da guarda, como diz Jerônimo.
Suma Teológica I, q.113, a.5

sábado, 21 de julho de 2012

Matrimônio na Igreja Católica Brasileira é Valido?



Aqui uma das questões que geralmente me apresenta:

Gostaria de saber se a realização de cerimonia matrimonial na sua igreja é valida, pois estão me dizendo que se eu casar na Igreja Catolica Brasileira, nao tem validade alguma, é verdade? Obrigada!

Querida irmã em Cristo:
Que a paz e o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo te acompanhe sempre.

Sua dúvida foi gerada por pessoas que desconhecem a Teología Católica. Minha resposta é:

1°- Todo casamento fora do ambito da Lei Civil não é Valido. Não é reconhecido pelos Cartórios. Só o casamento religioso com efeito civil que o cartório autoriza. Isto sem exceção!

2°- O Catolicismo não é patrimônio exclusivo de uma Igreja. No brasil existem: Igreja Catolica Apostólica Romana; Igreja Católica Apostólica Ortodoxa; Igreja Catolica Episcopal Anglicana; Igreja Católica Apostolica Brasileira - ICAB. Cada igreja é autonoma e legalmente reconhecida e amparada pela Constituição Brasileira. Por isso, nenhuma Igreja pode dizer, sem provas, que um Sacramento de outra Igreja é inválido. É a própria igreja, que em um caso particular, por motivos graves, investiga se teve
irregularidades e se pronuncia na valides ou invalides do sacramento administrado. 

3°-  O Sacramento do Matrimônio é o único que os Ministros do Sacramento são os noivos. Isto é, os noivos fazem a valides do matrimônio. O sacerdote é Testimunha qualificada e dá a benção nupcial, confirma o que os noivos manifestaram de livre e em comum acordo.
De tudo isto, posso afirmar que Igreja Católica Apostólica Brasileira tem Sacramento do Matrimônio valido!

Se tem alguma igreja, que diz não reconhecer ou não aceitar, isto é politica e não fé. Este modo de agir só é para dificultar e atrapalhar a pastoral de outras denominações católicas. Mas quem recebe os nossos Sacramentos tem tudo em nossa Igreja.

Minha benção!

Padre Hector
Filosofo e Teologo
Vigario da Paróquia Santo Expedito- S.V.-SP